OS MISTÉRIOS DA CHÁCARA

 

O relato que vou lhes contar é contado pela minha mãe ainda viva, e que lhe ocorreu em meados da década de 70 em uma cidade do interior do Paraná.

Tinhamos uma chácara em uma cidade do interior do Paraná, a exatamente 350 quilômetros de Curitiba.
Era uma terra boa, um terreno de esquina um pouco retirado da cidade, porém não muito longe.
A dita chácara era localizada em uma descida para a cidade Alta, e do seu lado direito havia uma outra propriedade também muito grande, só que nessa propriedade existia um pasto para bois, e logo mais abaixo havia uma mata fechada e escura.
Voltando a chácara principal, existiam lá muitas árvores, e dentre elas um abacateiro, eu deduzo que o mesmo era centenário, haja vista que precisavam de  quatro pessoas para abraçá-lo.
Os seus frutos eram de um doce extraordinário, tanto é que vinham pessoas de Curitiba apanhá-los na época da colheita.
A noite parecia que aquela terra era mais escura do que o normal, os bichos noturnos de vez em quando paravam com a sua sinfonia assim do nada, para algum tempo depois, voltarem a cantar e assim por diante.

 
Ouvíamos estórias um tanto descabidas, "na época éramos crianças de oito a dez anos", e jamais imaginávamos que aquilo iria nos acontecer.
Lembro-me como se fosse ontem, era um final de ano, e toda a família se reuniu naquela ocasião, para passarmos as férias na chácara, estávamos em quinze pessoas, e dessas quinze, seis eram crianças, inclusive este que subscreve.  Na primeira noite, dormimos todos amontoados em uma sala grande que a casa possuía, até ai tudo normal.
No outro dia, começamos a dar ouvidos a estórias do povo que naquela cidade moravam, estórias de visagens, assombrações, lobisomens, fantasmas e uma tal "mulher de branco que aparecia no abacateiro".
Não sabíamos ao certo se eles queriam nos assustar como por ex; botar medo no pessoal da cidade, haja visto que no interior eles tem esse costume de assustar as pessoas com estórias assim, ou será que não?

Na noite do segundo dia, já estávamos todos habituados com o local e o lugar, porém, quanto mais a noite adentrava, alguma coisa por dentro de nós nos apertava, como se alguma coisa fosse acontecer com algum de nós.  No terceiro dia, ouvimos uma estória que até poderia ter algum fundamento.
Na propriedade em frente a nossa chácara, havia aquela mata escura da qual lhes falei e em certa ocasião, alguém estava limpando parte daquele terreno e caiu em um despenhadeiro, e o seu corpo nunca mais foi localizado. Dizem os moradores da região, que em certas noites, ouvem os gritos lancinantes de alguém caindo de uma altura muito grande e depois pedir por socorro.

Não sei até hoje se foi fruto da nossa imaginação, "crianças tem a mente fértil", pois eram altas horas da noite, e todos os que estavam na chácara, inclusive os adultos, minha mãe e meu falecido pai, ouviram gritos de agonia e desespero e pedidos de socorro, vindos do lado da mata fechada e escura.
No outro dia comentando entre nós o ocorrido, todos foram unânimes em dizer que ouviram os gritos e os pedidos de socorro.
Cabe ao leitor deduzir se foi fruto de quinze mentes atuantes em um mesmo local, ou se realmente foi uma alma penada pedindo ajuda!

O outro fato a seguir também é relacionado com a chácara.
Um dos meus tios hoje já falecido, e que se chamava Mário, era uma espécie de feitor da chácara, pois morávamos em Curitiba, e ele naquela cidade, e cuidava da dita  chácara.
Certa feita foi tratar de um porco, que lá existia, eram mais um menos cinco e trinta perto das seis horas da tarde, foi quando ele adentrou na mangueira, pois tinha que obrigatoriamente passar perto do abacateiro, foi quando ele se deu conta e  estava lá a famosa mulher de branco, dando a volta no abacateiro, deu quatro voltas em redor da árvore, e desapareceu, como se quisesse ser vista.

Outro fato também relacionado ao abacateiro
Certa feita minha avó estava parada diante do abacateiro, em pleno dia,  e a minha mãe era menina e perguntou a ela: Mãe o que a senhora está fazendo ai? Naquele tempo se você chamasse seu pai ou sua mãe de você, tú apanhava tanto que nunca mais iria esquecer, era uma falta de respeito muito grande, uma grande afronta.
Foi quando ela se virou e respondeu: "Porque você veio me interromper aqui menina, agora que a mulher de branco ia me dizer aonde estava a panela de dinheiro."
Essa narrativa é descrita pela minha mãe até os dias de hoje.

Em outras ocasiões ainda foram ouvidos, isso já dentro de casa, como se alguém derrubasse uma grande quantidade de moedas no chão, passos vindos do lado de fora, batidas na porta, luzes que se acendiam e apagavam sozinhas, enfim foram muitos os mistérios e enigmas existentes naquela chácara.
Na década de 90, foi vendida a nossa chácara, por um preço vil, sendo que o pé de abacateiro, foi cortado pelo atual proprietário, deixando somente a terra nua, e até os dias de hoje nada foi construído naquela terra, por que cargas d'água ninguém o sabe.
Persiste será o mistério naquela terra até hoje? Ou o atual proprietário desistiu de construir, se foi isso porquê? Fica a indagação para o  leitor, que tire suas próprias conclusões.

Obrigado.

 

José Augusto do Carmo Tambosi
Curitiba - PR - Brasil

                                       

 

 

 

 

 

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